RESENHA
Israel B. Alves
STOTT, John. O discípulo radical,
Editora Ultimato, Viçosa, MG, 2011.
O prefácio do livro é a
explicação do próprio Stott para a escolha do título de seu livro. Nele, os
leitores são relembrados que os primeiros seguidores de Cristo eram chamados
“discípulos” e que o termo em si é mais significativo que o termo cristão, pois
o primeiro traz consigo a ideia da existência de um relacionamento entre aluno
e professor (p. 10). Stott então argumenta que o discipulado cristão possui um
caráter radical, que exige de cada discípulo um retorno às suas raízes ou, em
outras palavras, aos compromissos fundamentais com o mestre. Logo, o objetivo
de Stott é conduzir os cristãos a uma reflexão sobre a necessidade de
submeter-se radicalmente à autoridade de Cristo e para isso ele aborda oito
características do discipulado cristão que considera frequentemente
negligenciada em nossos dias (p. 11).
Primeiramente, ele trata do inconformismo.
Para Stott “a igreja tem uma dupla responsabilidade em relação ao mundo ao
seu redor” (p. 13). Tal responsabilidade é de servir e testemunhar de Cristo e
ao mesmo tempo não contaminar-se com o mundo. Portanto, os discípulos de Jesus
são chamados a “desenvolver uma contracultura cristã” (p. 14). E, a partir
desta contracultura, resistir às tendências contemporâneas que são os grandes
desafios para a radicalidade do discipulado cristão: o pluralismo, o
materialismo, o relativismo ético e o narcisismo (p. 14-20).
No capítulo
seguinte, Stott fala sobre a necessidade de o discípulo de Cristo tornar-se
semelhante ao seu Mestre (p. 23). Stott explica que o enchimento com o Espírito
Santo é a forma pela qual Deus faz os cristãos se tornarem como Cristo (p. 31).
A terceira característica do discipulado cristão abordada por Stott é
a maturidade (p. 33). Stott se propõe a tratar da questão da maturidade a
partir de três questões básicas: “o que é maturidade cristã” (p. 35-36), “como
os cristãos se tornam maduros” (p. 36-39) e “para quem esse chamado à
maturidade é direcionado” (p. 36-41). Ele encerra esse capítulo com uma breve
súplica, pedindo de Deus “uma visão completa e clara de Jesus Cristo” (p. 41).
O quarto capítulo revela uma preocupação extremamente contemporânea
de Stott: “o cuidado com o meio ambiente” (v. 43). O capítulo aponta o
relacionamento de “cooperação com Deus” como o correto posicionamento dos
discípulos diante da questão ecológica, desviando-se dos extremos possíveis (p.
45,46).
O quinto capítulo, particularmente, considero uma aplicação prática
do anterior, pois a simplicidade de vida implica no uso correto dos bens e do
dinheiro, e consequentemente tem implicações para o consumo (p. 56-70). O
interesse de Stott é que os discípulos reflitam sobre sua responsabilidade com
os seus atos de consumo e suas implicações sociais e mundiais.
O sexto capítulo é uma reflexão apropriada sobre quem os discípulos
são à luz das Escrituras. Neste capítulo somos guiados por Stott através de 1
Pedro 2.1-17 para lembrarmos que somos: bebês (p. 73-75), pedras (p. 75-77), sacerdotes
(p. 77-79), povo de Deus (p. 79-80), estrangeiros (p. 81) e servos (p. 81-82).
Diante dessa perspectiva, os leitores são chamados a refletir sobre o chamado
de Deus: para o discipulado individual e para a comunhão corporativa (p. 83),
para a adoração e para o trabalho (p. 84), para a peregrinação e para a
cidadania (p. 84).
No penúltimo capítulo, Stott aborda a característica da dependência. A
conclusão do capítulo é o reconhecimento de que o discípulo não perde sua
dignidade ao depender de outras pessoas e evoca o exemplo do Deus encarnado
como modelo para a nossa atitude de vida (p. 94).
Finalmente, Stott fala sobre
a morte. Ele reconhece que a “vida por meio da morte é um dos mais profundos
paradoxos da fé e da vida cristã” (p. 95). Por isso, ele convoca os discípulos
radicais a terem uma visão correta acerca da morte como a entrada para a vida
(p. 96). Stott lembra que a Bíblia trata os cristãos como “ressurretos dentre
os mortos” (p. 96); logo, o paradoxo vida e morte produz implicações revolucionárias
em seis situações da vida cristã: na salvação (p. 97-98), no discipulado (p.
98-100), na missão (p. 100-104), na perseguição (p. 104-106), no martírio (p.
106-107) e na mortalidade (p. 107-111). Stott encerra esse capítulo lembrando
que os cristãos são como “aqueles que estão vivos de entre os mortos” (p. 112).
Stott conclui seu trabalho
reconhecendo que não foi exaustivo e que existem outras características que
precisam de uma reflexão madura dos discípulos. Ele encerra, dizendo: “O
fundamental em todo o discipulado é a decisão de não somente tratar Jesus com
títulos honrosos, mas seguir seu ensino e obedecer aos seus mandamentos” (p.
113).
O livro em questão é uma
daquelas obras que estão destinadas a se tornarem clássicos e, portanto, uma
leitura obrigatória para os cristãos em geral. Algumas características do livro
precisam ser destacadas:
v A primeira é a sua leitura
agradável e sua linguagem simples, que revela o coração de um pastor preocupado
com a presente geração de cristãos que necessita urgentemente refletir sobre a
radicalidade da fé e do discipulado de Jesus Cristo.
v A segunda característica é a
profundidade bíblico-teológica com que Stott aborda a temática do discipulado,
o que oferece uma fundamentação sólida para os leitores.
v A terceira é a dinâmica do
texto que, apesar da profundidade bíblica e teológica, é extremamente prático e
exige uma resposta imediata do leitor.
v E, por fim, Stott foge da
fórmula usada por autores da área de vida cristã e discipulado, que apresentam este
tema numa perspectiva intimista, meramente contemplativa e dissociada de
práticas mais concretas.
A obra convida ao retorno a
uma piedade ativa e proativa. O discípulo radical é chamado para o serviço a
Deus, às pessoas e ao mundo, numa vida de imitação de Cristo, de maneira madura
e equilibrada.